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Leishmaniose Visceral Canina: conhecer para prevenir!

Leishmaniose Visceral Canina: conhecer para prevenir!

Data de Publicação: 14 de maio de 2020 14:31:00

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A leishmaniose é uma zoonose que atualmente se encontra entre as seis endemias consideradas prioritárias no mundo. No Brasil, a distribuição geográfica desta doença vem ampliando, tanto na população de cães, quanto na humana. Essa doença parasitária de caráter crônico é ocasionada por protozoários da espécie Leishmania infantum e sua transmissão ocorre por meio da picada das fêmeas de mosquitos das espécies Lutzomyia longipalpis e Lutzomyia cruzi. Vulgarmente conhecidos como “mosquito-palha”, esses insetos são pequenos (menores que o pernilongo comum), tem coloração amarelada e desenvolvem-se em locais úmidos, sombreados e ricos em matéria orgânica. Deste grupo, somente as fêmeas disseminam a Leishmania, pois essas se alimentam do sangue de animais e de humanos. Esse hábito hematófago é necessário para que a fêmea do mosquito produza os seus ovos.

Santa Catarina era considerada indene (sem casos onde a transmissão ocorreu no próprio Estado) para leishmaniose visceral até 2010 quando foram descritos os primeiros casos autóctones em cães na nossa capital. O primeiro caso de leishmaniose visceral humana contraído dentro de Santa Catarina foi confirmado pela Secretaria Municipal de Saúde e a Diretoria de Vigilância Epidemiológica (DIVE) em 2017.

No ano de 2016, foi realizado pelo curso de Medicina Veterinária da UnC - Campus Canoinhas, um estudo com 72 cães residentes na região norte de Santa Catarina e sul do Paraná, para pesquisar cães soro reagentes para Leishmaniose visceral. No estudo foram utilizados dois testes de pesquisa de anticorpos, o SNAP Leishmania® Idexx e o Dual Plate Platform - DPP® da Fiocruz e nenhum dos animais testados foi reagente. Nesse mesmo estudo foi avaliado, por meio de um questionário respondido pelos tutores dos cães, o que eles conheciam sobre Leishmaniose Visceral. Percebeu-se o quão desconhecidos são os aspectos relacionados a doença, chegando a 74%, o percentual dos tutores que nunca haviam ouvido falar sobre essa doença.

Esse aspecto indica a necessidade e importância de uma maior divulgação desta enfermidade. Também se ressalta que, recentemente, um caso de leishmaniose visceral canina foi notificado em um município próximo a Canoinhas e divulgado pela vigilância epidemiológica do município de Canoinhas causando espanto na comunidade. Após toda confirmação em laboratório estadual oficial, o cão foi submetido a eutanásia devido a inviabilidade de tratamento. Até o momento, as informações disponibilizadas indicaram que o cão anteriormente havia residido em área de transmissão de Leishmaniose, indicando ser o presente caso “importado”, permanecendo o município onde o animal foi diagnosticado, como área sem transmissão autóctone de leishmaniose visceral canina.

Uma vez que o cão é picado pelo mosquito infectado, o protozoário é introduzido na corrente sanguínea e migra para os órgãos onde há maior concentração de células de defesa (como para o fígado, baço, linfonodos e a medula óssea). Muitos cães não apresentam sinais clínicos, mas quando sintomáticos possuem sinais clínicos inespecíficos como febre, linfadenopatia, anemia, emagrecimento progressivo, sangramento pelas narinas, dermatite descamativa ou ulcerativa, dilatação do abdômen pelo aumento do fígado e do baço e crescimento exagerado de unhas, sendo a principal causa de morte nos cães parasitados a insuficiência renal (Figura 1).

Figura 1. Sintomas manifestados nos seres humanos e sinais clínicos apresentados por cães quando infectados pelo protozoário Leishmania infantum.

Devido à variedade e inespecificidade dos sinais clínicos da doença, o diagnóstico clínico da leishmaniose visceral canina torna-se difícil de ser realizado, indicando a necessidade da utilização de métodos laboratoriais (sorológicos e parasitológicos) para sua confirmação. Baseado em resultados de exames sorológicos e parasitológicos, o diagnóstico laboratorial é somente definido pelo médico veterinário.

Apesar de existir vacina contra a Leishmaniose visceral canina, não há constatação de seu custo-benefício e efetividade para o controle da leishmaniose visceral canina e humana em programas de saúde pública. Atualmente, coleiras impregnadas com inseticidas estão entre as mais utilizadas para se afastar os mosquitos vetores e minimizar a transmissão da doença, visto que possuí caráter zoonótico, e se não tratada a tempo exibe riscos a demais cães e a comunidade. Ainda, deve-se cuidar e limpar do ambiente interno e externo das residências para evitar a presença do vetor, lembrando que, são ambientes com características favoráveis à presença do vetor, aquelas áreas com acúmulo de resíduos e outros tipos de matéria orgânica nas quais existam animais de criação em ambientes sem limpeza diária, tais como galinheiros, ou em áreas próximas às matas, rios e lagos.

 

Autores:

Juliano Biolchi: Acadêmico de Medicina Veterinária e Bolsista PIBIC - CNPq. julianobiolchi@outlook.com

Daniela Pedrassani: Doutora em Medicina Veterinária. Docente do Curso de Medicina Veterinária e do Programa de Mestrado em Desenvolvimento Regional da UnC. daniela@unc.br

 

 

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