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O que é automedicação? Tomar medicamento por conta própria faz mal à saúde?
Data de Publicação: 5 de agosto de 2020 10:22:00
A automedicação, termo usado para designar a “ação de medicar-se por conta própria”, é uma prática largamente difundida no Brasil e no mundo. As consequências dessa prática podem ser desastrosas, gerar efeitos indesejados e imprevistos, causando danos à saúde – em função do risco – e, ao bolso dos usuários, por estar relacionado ao alto custo e à aquisição de produtos desnecessários. Tomar medicamento sem a orientação de um especialista pode, por vezes, não surtir efeito algum; agravar doenças; mascarar sintomas, tornando mais difícil o diagnóstico de determinadas enfermidades, além de causar danos sérios ao organismo ao atingir órgãos que não estão doentes.
No Brasil, várias são as razões pelas quais os indivíduos se automedicam. A automedicação pode ser atribuída à dificuldade de acesso de grande parte da população a um médico ou a um odontólogo – seja pela localização geográfica, com moradias distantes dos serviços de saúde ou pela falta de informação – ou, ainda, pelo hábito de resolver os problemas de saúde considerados rotineiros da sua própria maneira, alegando falta de tempo ou boa saúde. Assim, muitas vezes as pessoas preferem seguir a sugestão de um conhecido próximo (vizinho, irmão, balconista da farmácia) a enfrentar a espera pelo atendimento médico.
A automedicação também é influenciada pelas mensagens publicitárias veiculadas pelos diversos meios de comunicação. Como boa parte dos medicamentos é vendida sem receita médica (medicamentos de venda isenta de prescrição), comprar medicamento por conta própria, na farmácia mais próxima, tornou-se a primeira opção da maioria da população brasileira para tratar sintomas comuns à maioria das doenças.
O consumo de vitaminas, exemplo de modismo influenciado pela mídia, tem comprovação científica que, em excesso, pode causar doenças: a vitamina C pode provocar distúrbios gastrointestinais e cálculo renal. A vitamina A, quando consumida em altas doses e por um longo período de tempo, pode causar distúrbios neurológicos. E, se usada por crianças, pode provocar hipertensão craniana. Os analgésicos podem causar lesão aguda na mucosa gástrica e são contraindicados para pacientes que tiveram úlcera ou para o tratamento da dengue, pois podem causar sangramentos e hemorragias internas. As pessoas que têm problemas cardíacos, renais ou hipertensão devem evitar o uso inadequado de anti-inflamatórios, pois estes podem alterar o quadro dessas doenças. O uso abusivo de medicamentos para sintomas da gripe pode aumentar a pressão arterial, intraocular e os batimentos cardíacos. Todos os medicamentos, sem exceção, possuem efeitos colaterais e provocam riscos à saúde e, por isso, a sua administração deve ser orientada por médicos, ou farmacêuticos. A automedicação pode causar interação medicamentosa, ou seja, ao combinarmos medicamentos, um pode interferir na ação do outro, potencializando-a ou mesmo anulando-a. O mesmo pode acontecer em relação a certos alimentos.
No Brasil, é grande o número de vítimas por intoxicação de medicamentos. O Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas (SINITOX) registrou, em 2004, 81.824 casos de intoxicação humana no país. Sendo que os medicamentos, com um percentual de 29%, lideram a lista dos principais agentes tóxicos causadores dessas intoxicações. A forma mais comum de intoxicação é acidental (55% dos casos registrados), e a faixa etária mais atingida é a de crianças menores de cinco anos, que representam 23,8% dos casos. De acordo com a Associação Brasileira de Indústrias Farmacêuticas (Abifarma), todo ano cerca de 20 mil pessoas morrem vítimas da automedicação no Brasil.
Autora
Gabriela Ferreira é farmacêutica, doutora em Ciências da Saúde, pós-doutora em Engenharia e Ciência dos Materiais e pós-doutora em Farmacologia. Atualmente é pesquisador convidado do Instituto Ânima, professora presencial e online da Sociedade Educacional de Santa Catarina (UniSociesc) e Grupo Ânima, respectivamente. Coordenadora do curso de Biomedicina da UniSociesc de São Bento do Sul/SC. Tem experiência na área de Bioquímica, Farmacologia e Biomateriais.