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Falando sobre suicídio

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Segundo dados recolhidos em 2012 pela Organização Mundial de Saúde (OMS), mais de 800 mil pessoas tiram a própria vida todos os anos, sendo 75% destes indivíduos moradores de países de baixa e média renda. Estima-se que no mundo acontece um suicídio a cada 40 segundos. E para entender mais sobre o assunto trouxemos para uma entrevista o psiquiatra José Lúcio da Silveira, ele que é formado Médico pela Faculdade Evangélica de Medicina do Paraná, Psiquiatra pela Universidade Federal do Paraná, Psiquiatra Forense pelo Instituto da Psiquiatria da Universidade de São Paulo, Pós Graduado em terapia cognitivo comportamental pela SPP e Pós Graduado em Saúde mental da Criança e do Adolescente, trabalha na Secretaria Municipal de Saúde de Rio Negro e também Nova Clínica. Confira!

Por Aline Cardoso

- Os tabus e preconceitos dificultam que o tema seja abordado de maneira mais clara e objetiva?

R: O suicídio é um comportamento presente desde tempos imemoriais e nas mais diversas culturas, entretanto é cercado por mistérios, e, ainda hoje, é considerado um tabu, pois é a perda trágica da vida humana por um ato voluntário. Entende-se suicídio como a supressão voluntária e consciente da própria vida. Constitui um estranho fenômeno de patologia social, que em vários de seus aspectos tem desafiados os estudiosos.

- Quais cuidados precisamos ter ao falar de suicídio?

      Questionar sobre ideias de suicídio de maneira sensata e franca, aumenta o vínculo com os pacientes, que se sente acolhido por um profissional cuidadoso que se interessa pela extensão de seu sofrimento. Pensamentos recorrentes de morte, planejamento suicida, tentativas ou ameaças frustras, devem ser sempre tomadas com muita seriedade, pois não só refletem possibilidade de desfecho trágico, mas também nos falam sobre um alto grau de sofrimento humano.

- Geralmente a pessoa que pensa em tirar a própria vida costuma dar sinais?

R: Sim, pelo menos dois terços das pessoas que tentam ou que se matam, haviam comunicado de alguma maneira sua intenção para amigos, familiares ou conhecidos. Existe um perfil de fatores de risco para suicídio. Dos que morrem por suicídio, 50 a 60% nunca haviam consultado com o profissional de saúde mental. Metade das pessoas que morrem por suicídio foram a uma consulta médica em algum momento do período de seis meses que antecederam a morte, e 80% foram a um médico no mês anterior ao suicídio. No entanto ainda permanece correto que 50% dos que se suicidam, nunca foram a um profissional de saúde mental.

Ainda existem fatores de risco sociodemográficos, psicológicos e psiquiátricos coo presença de crises vitais, traços de personalidade impulsiva, instabilidade familiar, perda precoce dos pais, presença de doenças gravemente incapacitantes, terminais e dolorosas.

- Quais os principais distúrbios relacionados à prática do suicídio?

R: Em uma amostra de pessoas que conseguiram o intento do auto extermínio, pode-se, através da perícia retrospectiva, apontar que 35% das vítimas apresentavam transtorno grave do humor, 22,4% apresentavam transtorno relacionados ao uso de substâncias, 10% apresentavam esquizofrenia e 11% apresentavam transtorno de personalidade. Curiosamente 3% das pessoas vitimadas por suicídio não apresentavam qualquer transtorno psiquiátrico.

- É possível prevenir o suicídio? Como?

R: Sim.Através da promoção de mecanismos de conscientização e intervenção para melhoria da saúde mental da sociedade. Das articulações mais simples, como aplicação de instrumentos de rastreio por profissionais treinados no âmbito da saúde pública, até as intervenções mais complexas como estruturação urbanística de bairros carentes promovendo-se o acesso daquelas populações à cultura e ao esporte.

         Atualmente tem se falado em 'ergonomia cognitiva', medidas a serem tomadas a fim de evitar o born out ou adoecimento emocional decorrente do trabalho. Enfim, há muita coisa que se pode fazer.

- Gostaria de deixar alguma mensagem aos nossos leitores sobre o tema?

Gostaria de sugerir um filme. Trata-se de "um Lindo dia na Vizinhança", estrelado por Tom Hanks. É a história real de Fred Rogers, um cara genial que sacou já nos anos 60, que é necessária a educação emocional das crianças. Acho que vale a pena, e é bem atual.

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