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Entrevista com o presidente da OAB de Mafra, Dr. Jeison Maikel Kwitschal

Entrevista com o presidente da OAB de Mafra, Dr. Jeison Maikel Kwitschal

Data de Publicação: 4 de agosto de 2022 17:27:00 Nesta entrevista, em comemoração ao Dia do Advogado, o presidente da OAB de Mafra, Dr. Jeison Maikel Kwitschal, comenta sobre sua história ao curso de Direito, as suas conquistas na carreira de advogado, e deixa uma mensagem aos recém formados.

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1. O que o levou a fazer a escolha pelo curso de Direito?

É um pouco mais complicado dizer o que me fez escolher essa profissão. A minha origem não é uma origem vinculada ao ramo do direito, ou seja, não tinha parentes próximos trabalhando nessa área, meus pais inclusive tinham uma lanchonete. A gente sempre lutou muito para conseguir aquilo que almejava e meus pais sempre deixaram claro que queriam deixar isso tudo para nós, tanto para mim quanto para o meu irmão. Diante da proximidade de cursos de direito na região, foi a opção que me pareceu mais viável na época, em especial pelo fato de estar dentro de uma lanchonete, conversar com pessoas, cada um com a sua dificuldade, relatando problemas ou dificuldades de acesso, às vezes, até à própria justiça para conseguir o seu direito. Então talvez essa quantidade de conversas, essa possibilidade de tentar de alguma forma ou de outra, ajudar e claro conseguir sobreviver também na vida ajudando as pessoas, foi o que talvez me fez pensar nessa possibilidade de curso.

Na época morava em Rio Negrinho, então tinha a opção de São Bento ou Mafra, e na época a Universidade do Contestado, pela qualidade que já tinha no curso de Direito, naquele ano, em 2005, inclusive era uma das que mais aprovavam no exame da Ordem, então foi isso que me fez optar pelo curso de Direito aqui em Mafra. E a escolha da profissão, acho que é mais inerente à possibilidade de contribuir de alguma forma com a sociedade, e claro também angariar aos honorários e poder sobreviver.

Inicialmente não passava na minha cabeça que eu ia cursar Direito. Hoje em dia a maior dificuldade dos jovens é pensar que tem que escolher o que vai fazer da vida com 17 anos. Antes da entrevista a gente comentou que não existe um direcionamento educacional para a nossa vocação, então a gente acaba gastando mais energia no estudo daquilo que você talvez não seja tão bom, quando na verdade, você deveria fomentar aquilo que você já possui destaque. Mas faz parte, eu ainda venho de um ensino mais antigo, já faz uns 15 anos que me formei no segundo grau. Tinham alguns conceitos que a gente jamais imaginava, em especial pensar em internet, computador.

 

2. Qual a sua maior satisfação tendo escolhido a carreira de Advogado?

Poder exercer. Enquanto faz o curso de Direito é aberto um leque muito grande para nós, podemos escolher entre concurso público, quem já tem uma empresa para administrar, ou algo desse tipo, consegue agregar muito com o curso de Direito. Mas tenho certeza que a advocacia é a melhor opção para quem se forma bacharel em Direito. Infelizmente a gente não tem muitos colegas pensando assim, as pessoas quando entram num curso de Direito, normalmente você vai escutar que os alunos querem concurso público, querem ser policiais, delegado, juiz. E na verdade, o lado mais apaixonante do direito está na advocacia, porque é ali que você realmente vê a coisa acontecer, você tem a chance de defender, tem a chance de buscar o direito para o cidadão.

E estar na frente da instituição de Mafra e Itaiópolis também é uma das maiores satisfações que eu tenho.

 

3. Você teve alguma frustração durante o curso, ou exercendo a profissão de Advogado?

A frustração dentro do curso, não tanto. Com o andar da carreira a gente acaba tendo algumas frustrações. Todo advogado iniciante sabe da dificuldade que é exercer a profissão, e acho que isso não é limitado apenas à advocacia. Nós vemos todas as profissões tendo dificuldades de início de carreira, os medos, os anseios que todos têm, então acho que isso é meio inerente.

Frustrante é você saber que existiam tantos colegas dentro do curso de Direito que hoje talvez não desempenhem a função, não conseguiram alcançar esse objetivo. Ficaram pelo caminho por condições pessoais, financeiras, ou acabaram buscando outros espaços também. Então sabemos que tem muita gente com potencial, com muita possibilidade de exercer a profissão e acaba ficando pelo caminho.  

Não dá para ressaltar que a gente também queria ajudar mais. No nosso dia a dia, nós vemos tantas pessoas precisando de auxílio jurídico, mas é algo que tem que haver uma conciliação. Não é fácil, porque via de regra são trabalhos que não te remuneram, mas te tomam tanto tempo quanto. E nesse ponto, a gente destaca os colegas que fazem a defensoria da ativa, que são colegas que recebem valores abaixo daquilo que gostaríamos que fosse praticado. O desafio é grande, são muitas ações, muitas demandas, a realidade das pessoas é difícil, a gente conhece esses fatos, mas as vezes, não conseguimos ajudar da maneira que gostaríamos. 

 

4. Um advogado realmente preparado tem que necessariamente passar pelo exame da Ordem?

Essa é a maior encrenca que o futuro advogado encontra na faculdade de Direito. A gente sempre vai levando os desafios da faculdade como uma escadinha, então sempre falamos assim “meu Deus, esse semestre está difícil. O próximo está mais difícil ainda. Aí vem o tal do TCC, apresentar a banca”. E você vai sempre achando que aquele desafio sempre é o maior, mas quem tem advocacia como foco, sempre tem o desafio do exame da Ordem, e óbvio, quanto mais cedo você consegue passar nele, melhor são as suas chances de mercado, porque a lei evolui muito rápido, então é muito difícil você acompanhar as leis à nível federal, estadual, municipal, então quanto mais fresco você sai da faculdade para fazer o exame da Ordem, ótimo.

Eu vejo que o exame é essencial. Ainda que o advogado se entenda como preparado para poder exercer a profissão, ele ainda é essencial. Não só por uma forma de filtro, porque, para quem não tem conhecimento, hoje no Brasil, somos quase 1,5 milhão de advogados, e se não houvesse o exame, esse número com certeza iria passar de 3 milhões.  

 

5. Atualmente, quais são as áreas de maior destaque e interesse no Direito?

Hoje a gente acaba atuando em áreas mais específicas, que são a área do Direito Público e do Direito Empresarial.

Mas, podemos destacar que aqui na nossa subseção, grande parte dos advogados já tem buscado especializações. A gente sabe que o clínico geral, como diz o outro, já é uma figura que está sendo ultrapassada, quanto mais especialista o colega consegue ser em um determinado assunto, ele acaba também tendo honorários maiores, por ser especialista naquela área.

 

6. O que uma pessoa interessada na carreira de Direito deve saber, antes de escolher a profissão?

Não é o foco de se preparar para fazer Direito, mas sim saber o que você quer da sua vida. É bom buscar informações antes de ingressar em qualquer curso que seja, para você não se tornar uma pessoa infeliz. Assim como o pessoal fala do concurso público, quando você da uma apertada na pessoa que quer o concurso público, ela acaba falando que quer o concurso por estabilidade, não necessariamente porque ela quer exercer aquela atividade.

A escolha do curso, seja de Direito ou qualquer outra atividade, é buscar saber o que você quer lá na frente. O aprendizado e o conhecimento vão acontecer dentro da faculdade, a base você vai ter, mas o que você não pode ser é um profissional infeliz. E mesmo começando, vendo que não era aquilo que você queria, para, recomeça e busca uma outra opção.

Nós vemos muitos memes hoje em dia, de que ninguém levanta e diz “meu Deus! É isso que eu quero, vou acordar e mexer num processo civil, de divórcio porque isso me realiza”. Não, o resultado é muito bacana, mas tem dias que parecem noite.

 

7. Quais conselhos você daria a um advogado recém formado?

Advogue. Não se deixe abater por aquilo que os outros falam. O advogado eu acho que é referência por não concordar com o que as pessoas falam. Se alguém te processa, eu como seu advogado diria que é a outra pessoa que está errada. Então, se o advogado consente com qualquer opinião que venha de fora, seja de familiares, de colegas, de amigos ou inimigos, ele já está no caminho errado.

Faço uma lembrança de quando palestrei na UNC, tinham umas 4 turmas de Direito e a primeira pergunta que fiz foi: “quem quer advogar?”. E eu tive o desprazer de ver apenas duas mãos levantando. Então uma das nossas principais metas na subseção aqui, é mudar esse conceito. Fazer com que a advocacia não seja a última opção.

Nós estamos para lançar agora em agosto, nosso projeto de mentoria. Nós já cadastramos todos os nossos mentores, e a ideia é fazer com que os mentorados tenham esse laço com um advogado mais experiente, para conseguir tirar dúvidas, ter um apoio na primeira audiência ou no primeiro ato. E assim, juntos nós conseguimos ir muito mais longe.

 

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