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ANVISA é contra o uso de Ivermectina na Covid-19
Data de Publicação: 28 de julho de 2020 16:01:00
Esta história de usar ivermectina no Covid-19 começou por conta de estudos in vitro mostrarem capacidade da droga em reduzir a replicação de RNA viral do SARS-CoV-2, ao se ligar a proteínas de transporte celular e impedir a entrada do vírus no núcleo da célula. Esta evidência é interessante, pois a ivermectina é uma droga barata e amplamente disponível, já que está na lista de medicamentos essenciais da Organização Mundial de Saúde (OMS).
Porém, a grande dificuldade está em repetir os resultados in vitro em estudos in vivo. Para isso, esbarramos no fato de os dados farmacocinéticos disponíveis para a ivermectina indicarem que as concentrações inibitórias de SARS-CoV-2 praticamente não serem alcançáveis ??com os regimes de dosagem até agora conhecidos em seres humanos. Sendo assim, para combater o vírus in vivo, precisaríamos de uma overdose de ivermectina, com uma dose 17 vezes maior do que a dose máxima permitida para humanos. Esta overdose poderia gerar consequências, como depressão do sistema nervoso central.
Além dos estudos in vitro, em abril, foi publicado como preprint, um artigo que sugeria forte eficácia da ivermectina como antiviral, quando testado em seres humanos. Na época, nós publicamos o artigo no portal, ressaltando que era preprint. Porém, tivemos que colocar uma nota de esclarecimento no texto depois que reparamos que o artigo da ivermectina era do mesmo autor e usava o mesmo banco de dados polêmico (empresa Surgisphere) do artigo da hidroxicloroquina que foi suspenso do The Lancet pela inconsistência dos dados.
A questão é que, na internet, as informações viralizam. Segundo reportagem de The Guardian, o preprint duvidoso da ivermectina foi rapidamente baixado mais de 15 mil vezes, e os governos do Peru e da Bolívia anunciaram que iriam distribuir ivermectina como tratamento para Covid-19, em maio.
Assim, este foi o caminho percorrido pela ivermectina, que antes era um remédio de piolho, demonstrou atividade in vitro contra o Sars-Cov-2, necessitava de overdose para alcançar resultados clinicamente satisfatórios, mas acabou viralizando como a nova “pílula mágica” do Covid-19.
Autora
Gabriela Ferreira é farmacêutica, doutora em Ciências da Saúde, pós-doutora em Engenharia e Ciência dos Materiais e pós-doutora em Farmacologia. Atualmente é pesquisador convidado do Instituto Ânima, professora presencial e online da Sociedade Educacional de Santa Catarina (UniSociesc) e Grupo Ânima, respectivamente. Coordenadora do curso de Biomedicina da UniSociesc de São Bento do Sul/SC. Tem experiência na área de Bioquímica, Farmacologia e Biomateriais.