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Um mundo, uma saúde

Um mundo, uma saúde

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O mundo hoje globalizado é o lar de milhões de espécies de seres vivos. E o convívio homem/animal que acontece desde os primórdios da humanidade, seja para alimentação, trabalho ou companhia, tem se intensificado cada vez mais.

Sabe-se que a maioria dos animais de estimação são considerados membros da família e estão em contato direto com os seres humanos. Além disso, a procura por pets silvestres e exóticos tem aumentado nos últimos anos, e estes animais apesar de diferentes dos convencionais também estão em maior proximidade com o ser humano.

Mas o que preocupa não é esta convivência em si com os animais convencionais ou não, porque se esta é acompanhada de guarda responsável, será proveitosa e trará benefícios a saúde e bem-estar dos tutores. Porém, a invasão pelo ser humano ao habitat natural de animais silvestres, seja em busca de moradia, alimentação, trabalho ou lazer tem desencadeado entraves que a saúde do planeta pode não estar tão bem preparada para enfrentar.

A exemplo disso pode-se citar a pandemia ainda em curso, Covid-19, que iniciou na China e rapidamente se espalhou pelos demais continentes do planeta dizimando milhares de pessoas. Mas sabe-se que esta não é a primeira vez que uma afecção com alto potencial de disseminação se propaga rapidamente em diversos países pelo mundo.

Outras pandemias já ocorreram no planeta e marcaram a história. Dentre estas, pode-se relembrar a da Peste Bubônica também conhecida como Peste Negra, a gripe espanhola, a varíola e a gripe suína. E pode ser que muitas ainda venham a manifestar-se, caso não seja dada a devida atenção e consideração a relação homem/animal/ambiente.

As doenças zoonóticas que são doenças ou infecções naturalmente transmitidas entre animais e seres humanos, as mudanças ambientais decorrentes da ação humana, o aparecimento de agentes com maior patogenicidade, são alguns dos embates que tem interferido na saúde pública das populações. E todos esses embates associados podem ser os responsáveis pela ocorrência de futuras pandemias.

Observa-se, portanto que, tratar as saúdes isoladamente, como se estas não estivessem interligadas e vivessem em mundos separados, é cada vez mais distanciar-se de alcançar a saúde, é atrasar e prejudicar o desenvolvimento sustentável das nações.

Estes três pilares (saúde ambiental, saúde animal e saúde humana) estão em íntima relação. Sendo assim, não deve-se haver separação entre as saúdes, mas considerar que se existe apenas um planeta terra onde estes três pilares convivem, existe apenas uma saúde, e esta é única.

A saúde única pode ser definida como um esforço colaborativo entre múltiplas disciplinas, para alcançar a saúde ideal para humanos e animais, ao mesmo tempo em que protege o meio ambiente (KING et al., 2008). A saúde única então reconhece a interconectividade entre as três áreas da saúde.

Apesar das três áreas estarem conectadas, verifica-se que são distintas, e por isso uma das estratégias utilizadas pela abordagem saúde única é a transdisciplinaridade (interação global de várias ciências), uma vez que para que esta seja efetiva necessita da colaboração, e trabalho de profissionais de diversas áreas do conhecimento.

Uma das profissões que tem desempenhado papel fundamental na saúde única é a medicina veterinária. A medicina veterinária, não possui apenas o dever de prevenir, controlar e curar doenças animais, mas também tem como objetivo servir a humanidade. O médico veterinário possui um vasto conhecimento, o qual vai muito além da clínica, se estende ao controle e prevenção de doenças transmitidas por alimentos, doenças zoonóticas, e monitoramento de resistência aos antimicrobianos. Destacando também a preocupação e atenção deste profissional com o contexto ambiental em que os animais estão inseridos, e que pode interferir na saúde humana.

A garantia à saúde se dá por meio das políticas públicas, e estas também são um dos caminhos para se alcançar a saúde única. Tanto as políticas públicas de saúde ambiental quanto as de saúde animal irão refletir na saúde humana.

Importante destacar que não basta saber que existem políticas públicas nas três faces da saúde, é preciso que estas sejam monitoradas e executadas corretamente e possam vir a mudar e criar novas maneiras de conservação e preservação do meio ambiente, promovam o bem-estar e saúde animal, e previnam e controlem doenças, pois só assim consegue-se melhorar a saúde da população.

Manter a saúde pública é um grande desafio para os governos e órgãos de saúde. A saúde impacta a economia e está intrinsecamente ligada ao desenvolvimento. E a saúde única, portanto, pode ser uma das alternativas a se adotar para alcançar os objetivos do desenvolvimento sustentável, e assim prever e prevenir novas pandemais e manter um planeta saudável à presente e as futuras gerações.

 

KING, L.J.; et al. Executive summary of the AVMA One Health Initiative task force report. Journal of the American Veterinary Medical Association, v.233, p.259-261, 2008.

 

Daniele de Cássia Karvat – Médica Veterinária, Mestranda no Programa de

Mestrado em Desenvolvimento Regional da Universidade do Contestado

(UnC). E-mail: daniele.karvat@gmail.com

 

Dra Daniela Pedrassani – Médica Veterinária, Docente do Curso de Medicina Veterinária e do Programa de Mestrado em Desenvolvimento Regional da Universidade do Contestado (UnC). Email: daniela@unc.br

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