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Entrevista: os desafios da mulher advogada no Brasil

Entrevista: os desafios da mulher advogada no Brasil

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Por Carla Taíssa

Neste domingo (15) se comemorou o Dia da Mulher Advogada. Para conhecer alguns desafios enfrentados pelas mulheres nesta profissão, conversamos com a advogada Adriana Dornelles, que comenta também as principais conquistas da categoria.

 

Quais são os principais desafios enfrentados pela mulher advogada no Brasil?

Na advocacia temos um reflexo da nossa sociedade em geral, aonde a valorização do serviço profissional das mulheres não é a mesma do que a dos homens. Por exemplo, já tem pesquisas internas da Ordem que demonstram que os homens recebem honorários maiores do que as mulheres nas contratações individuais. Mas, na advocacia independente, as mulheres têm se sobressaído muito e têm um papel muito importante na profissão porque têm um trato diferente. Por exemplo, as advogadas despontam muito em termos de detalhes, de cuidado, da sensibilidade de ouvir o cliente e entender as dores do problema que ele traz para o escritório.

Mas eu vejo que hoje há um desafio da profissão como um todo devido à grande quantidade de cursos de Direito que surgiram no país. Pela lei da oferta e da procura os honorários acabam desvalorizados. Atualmente são 1650 cursos de Direito em atividade no Brasil, mais cursos do que a soma da oferta em países como China, EUA e Europa.

E como você vê o espaço da advocacia feminina em Riomafra? Segundo informações da OAB existem mais homens associados...

Embora no contexto regional existam mais advogados homens, as mulheres se destacam muito! Há mais de 20 anos fui escolhida a primeira presidente mulher de uma Subseção no planalto norte catarinense. Na época fui a mais jovem presidente de Subseção do Brasil. E depois disso a OAB de Mafra já teve outras mulheres na presidência como a Sirlei Braz Wegrzynovski Rechetelo e a Celina Dittrich Vieira por duas gestões. Em Rio Negro tivemos a Daniela Melz Nardes como presidente por duas gestões. E eu mesma fui indicada para o Tribunal de Ética e a delegada na Caixa de Assistência dos Advogados, cargos que, em geral, em outras cidades e estados, são assumidos por homens. Então, em nossa região, é comum a valorização da mulher. Assim como, eu vejo que as advogadas têm muita postura para advogar, eu admiro muito minhas colegas.

Existe alguma conquista importante da mulher advogada que você gostaria de destacar?

O fato que tivemos a oportunidade de ter a primeira mulher presidente de Subseção do planalto norte catarinense foi uma grande conquista, porque a partir daí abriu-se as portas para que outras profissionais se sentissem capacitadas ao exercício da presidência da OAB. Mas também temos a Comissão da Mulher Advogada, atualmente com a Celina Ditrich Vieira à frente. E foi reativado o Conselho Municipal da Mulher em Mafra, por incentivo da OAB em conjunto com a vereadora Claudia Buss. Isso é importante porque através desse conselho as mulheres vão ter uma referência especial na cidade e o conselho pode ajuda-las em todos os sentidos, até nas questões de campanhas sociais para combater a violência contra a mulher, prevenções de saúde, etc. Isso sem contar o fato que Mafra desponta como uma Subseção que tem participação muito efetiva da mulher advogada e traz campanhas específicas como as do outubro rosa, palestras, etc.

Qual profissional te inspira em sua carreira?

Sem dúvida minha mãe, Marli Dornelles Paz, que foi a primeira advogada da cidade de Mafra e com escritório estabelecido. Na época só tinham homens, então não foi fácil para ela. Com certeza foi o exemplo, abriu portas, e enfrentou muita dificuldade no início da carreira, na década de 1970. Para você ter uma ideia tinha alguns advogados que se negavam a fazer audiência com ela, então minha mãe teve que conquistar os espaços para poder atuar. Fico muito emocionada ao falar sobre isso e não tenha dúvidas que se eu tiver que destacar alguém na advocacia, vou destacar minha mãe.

Para finalizar, qual conselho você daria para as jovens que estão começando na carreira ou para quem está interessada na carreira?

As meninas entram muito jovens no mercado de trabalho, em geral com 22 ou 23 anos, eu entrei ainda mais cedo. Então o conselho que eu dou é que a mulher jamais deixe de se valorizar! Temos que nos posicionar, nos valorizar, a advogada deve ser firme e não pode de forma alguma aceitar qualquer tipo de discriminação de gênero. Não podemos nos calar diante de situações assim e temos que nos fazer respeitar. A mulher não pode deixar de ocupar seu espaço. 

 

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