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A vida no mar de Mafra a 300 milhões de anos atrás

A vida no mar de Mafra a 300 milhões de anos atrás

Data de Publicação: 20 de julho de 2020 13:57:00

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Você já ouviu falar no Campaleo? Ou no Horizonte de Macrofósseis do Folhelho Lontras? Mesmo que você não conheça esses termos, caso resida no norte de Santa Catarina, certamente já ouviu falar nos fósseis de Mafra, com os peixes petrificados, ou com as baratas mais antigas que os dinossauros.

Pois bem, todo esse conjunto de fósseis com cerca de 300 milhões de anos compõe a “biota” do Horizonte de Macrofósseis do Folhelho Lontras, e são escavados no sítio paleontológico chamado de Campaleo. Batizado com este nome por ser a área de pesquisa, ou campo, do CENPALEO (Centro Paleontológico da Universidade do Contestado), esse sítio paleontológico está localizado na cidade de Mafra, no Planalto Norte de Santa Catarina.  “Magnífico saber que aqui em Santa Catarina nós podemos visualizar os animais que viveram milhões de anos atrás, em um ambiente semelhante aos vales da costa sul do Chile (fjords) assim como da Nova-Zelândia. O Folhelho Lontras é como uma janela para o passado, dá para acreditar, tecido de esponja marinha preservado?”, comenta o Dr. Lucas Del Mouro, do LMPT/Geologia da UFSC, primeiro autor do trabalho.

Entender como essa mistura de organismos diferentes ficou preservada, por tanto tempo nas rochas de Mafra tem sido um grande desafio para os paleontólogos. A busca por esta resposta motivou uma pesquisa que congregou um grupo de paleontólogos de diversas especialidades. A coalisão investigativa envolveu profissionais do Centro Paleontológico da Universidade do Contestado (CENPALEO), da UFSC, UFSCAR, UFRGS, UNISINOS, USP e do Museu Nacional. Para entender os fenômenos que envolvem esses fósseis enigmáticos, os pesquisadores realizaram análises com os mais diversos recursos tecnológicos, em laboratórios do Brasil e Alemanha.

Os primeiros resultados desta pesquisa acabam de ser publicados em um artigo na revista “Palaeogeography, Palaeoclimatology, Palaeoecology”. Buscando compreender os processos químicos que possibilitaram a preservação excepcional dos fósseis de Mafra, diversas análises tecnológicas foram empregadas. “A preservação destes fósseis foi tão especial que até pequenos feixes de músculos de insetos ficaram preservados! Eles são tão diminutos que medem apenas uma fração de milímetro e, mesmo assim, estão visíveis. Até as cerdas que recobrem o corpo desses insetos ancestrais estão preservados, e elas tem apenas 1 micrômetro – isso é 0,001 mm!”, relata Me. João H. Z. Ricetti, paleontólogo da UnC.

O estudo desses fósseis e das rochas da região de Mafra trazem cada vez mais informações sobre a vida no passado da terra, e ajudam a entender como o norte de Santa Catarina era a quase 300 milhões de anos atrás. “Hoje, com mais de 20 anos de constante comprometimento na coleta e salvaguarda, milhares de fósseis já foram coletados e estão sendo estudados por diversos pesquisadores do Brasil e do mundo em parceria conosco”, comenta o Dr. Luiz C. Weinschütz, geólogo, coordenador e pesquisador do CENPALEO.

Hoje compreendemos que, no passado, Mafra foi muito diferente do que estamos acostumados a ver atualmente, em nosso dia a dia. Se tornou consenso entre os pesquisadores que em poucos lugares do mundo é possível encontrar tantos fósseis deste período da história de nosso planeta tão bem preservados como na região de Mafra.

 

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