Português (Brasil)

Mafrense ganha prêmio em competição internacional

Mafrense ganha prêmio em competição internacional

Data de Publicação: 17 de dezembro de 2020 09:15:00 A estudante, natural de Mafra, de Engenharia Florestal da Universidade Federal do Paraná (UFPR), conquistou o terceiro lugar em uma competição internacional da Rússia na última semana

Compartilhe este conteúdo:

Por Aline Cardoso

Na última semana a estudante Milena da Silva Werner, de 21 anos de idade, natural de Mafra do quarto ano de Engenharia Florestal da UFPR (Universidade Federal do Paraná) participou do evento XVII International Junior Forest Contest, que ocorre todo ano na Rússia e normalmente é presencial. Neste ano foi a 17º edição e por conta da pandemia aconteceu online. Vários estudantes do mundo todo, dos cursos da área ambiental participam dessa semana de evento. A estudante foi a única participante brasileira e saiu com a terceira colocação na competição. Por isso, o Diário Entrevista dessa semana é com Milena. Confira!

Milena da Silva Werner

 

Dia da apresentação do projeto da estudante

- Como e quando surgiu a ideia de participar desse evento? Quem foi o seu maior incentivador nessa trajetória?

O trabalho de pesquisa que apresentei eu desenvolvi durante uma iniciação científica na faculdade junto com a professora Ana Paula Dalla Corte na área de inventário florestal e manejo florestal sustentável na Amazônia. Quando foi divulgado a inscrição desse evento, eu me interessei e então conversei com essa minha professora, que orientou e supervisionou todo meu trabalho de pesquisa e ela disse que eu deveria me inscrever e que ela acreditava que teria chances de ser aprovado. No Brasil teve bem poucos inscritos e meu trabalho e de outro menino foram aprovados, e eu consegui ser a participante do evento. Isso aconteceu na metade deste ano e o evento aconteceu agora em dezembro. Minha professora me incentiva muito, ela me mostra muitas oportunidades dentro da universidade, minha família, meus pais, meu marido e ele me apoiaram, então achei que seria uma boa oportunidade pra viver essa experiência.

- Conte um pouco sobre sua pesquisa. Como foi durante o desenvolvimento, quanto tempo de pesquisa até chegar no dia do evento?

A pesquisa trata do manejo florestal sustentável que é como as florestas nativas da Amazônia são exploradas de forma legal, de acordo com a legislação vigente. Uma forma de explorar a floresta nativa e que permita que ela se mantenha ao longo dos anos, ou seja que essa geração possa usar os recursos que são necessários para a sociedade, mas que a floresta seja capaz de se recuperar e continuar produzindo para que outras gerações possam ter acesso a esses recursos causando o mínimo impacto durante a exploração. A minha pesquisa aborda formas de conduzir o monitoramento das atividades durante essa exploração, que são os inventários de monitoramento. Nós estudamos diferentes desenhos amostrais, diferentes intensidades amostrais para identificar o comportamento da floresta e como ela está se recuperando depois de alguma intervenção que foi feita, no manejo florestal sustentável. Por exemplo, como se fosse uma pessoa que faz uma cirurgia e ela precisa ir no médico num determinado período de tempo para ver como o corpo dela está reagindo a tudo que foi feito. É isso que a gente faz com a floresta. Esses inventários ajudam a compreender e decidir quais e quando serão os próximos passos. Essa etapa é fundamental para que a gente consiga explorar os recursos naturais que a floresta nos dá e que precisamos como sociedade, como a madeira, o látex que vem da seringueira uma espécie amazônica e o açaí. Os dados da minha pesquisa foram cedidos por uma empresa que justamente estuda esse manejo. A floresta estudada é um pedaço da Floresta estadual Antimary, situada no Acre, nos municípios de Sena Madureira e Bujari. Uma floresta que foi criada em 1999.

- Foram 28 participantes de vários lugares do mundo, e você conseguiu a 3º colocação sendo premiada, qual a sensação de trazer esse título para o Brasil e a para sua faculdade?

Fui para o evento com a expectativa de participar. Eram dez pesquisadores na mesa de júri. Eu sabia que era um concurso, mas sabia principalmente que seria uma troca de experiência e foi muito bacana assistir apresentações de outros estudantes do mundo todo. Vinte e oito no total, de várias idades, a faixa etária era de 14 a 21 anos. Foram trabalhos totalmente diferentes, assuntos diferentes e eu me preparei, estudei bastante para a minha apresentação e quando eu descobri que tinha ficado em terceiro lugar, fiquei muito feliz. Principalmente em saber por um professor que me acompanhou no evento, que esse é um dos melhores resultados que o Brasil teve nos últimos anos nesse evento. Foi muito gratificante e eu fiz questão de na minha apresentação dar uma certa ênfase de que o Brasil sabe da importância que as nossas florestas têm, tanto pro nosso país quanto pro mundo. Que nós temos boas universidades, como a UFPR (Universidade Federal do Paraná), onde eu estou cursando a minha graduação, com pesquisadores fantásticos que são reconhecidos no mundo todo. Quis mostrar que meu trabalho e minha universidade se importavam com isso. Mesmo sendo do Sul do Brasil eu estudei a Amazônia e foi uma honra representar e ser a única do Brasil e ainda conseguir essa colocação. Poder mostrar pro mundo um pouco do que é desenvolvido aqui, com relação à pesquisa científica, formação de profissionais, engenheiros florestais e mostrar o peso e importância da profissão que eu escolhi para nossa sociedade.

- Quais serão os próximos passos da sua pesquisa?  Pretende realizar algum projeto futuramente, tem algo em mente?

Nós chegamos em resultados bem interessantes e agora estamos tentando publicar um artigo científico numa revista internacional para que a gente tenha mais embasamento da pesquisa para que possa eventualmente ajudar os governantes, sejam eles do estado do Acre ou de outros estados que abrangem a floresta Amazônica, a delinear políticas públicas, para regularizar e cada vez mais tornar difuso o conhecimento sobre o manejo florestal, que as metodologias sejam testadas e aplicadas e essa seria uma ótima metodologia. Fizemos testes com diferentes procedimentos estáticos e um procedimento de reamostragem gerou o equivalente a 108 mil simulações de inventários florestais para que pudéssemos chegar num melhor cenário para essas amostragens dentro do inventário. Nós desenvolvemos uma versão expandida do que eu apresentei no trabalho a gente tratou de mais dados e mais resultados. Estamos agora na fase de aguardar se vai ser publicado ou não nosso artigo. A revista se chama “Forest Ecology and Management”, se não for publicada nessa nós tentaremos outras. Esperamos que essa pesquisa seja útil para o poder público e que isso possa nos levar a longo prazo a um desenvolvimento sustentável.

- Agora me conte, por que você escolheu seguir essa profissão?

No começo eu não sabia exatamente do que se tratava, mas eu sabia que eu gostaria de algo na área ambiental, sustentabilidade, recursos naturais. Conversei muito com pessoas em feira de profissões, com o meu padrinho que trabalha em uma empresa florestal e ele me incentivou muito a seguir essa profissão e então passei no vestibular e entrei para faculdade. Hoje, eu percebo que eu escolhi certo, eu amo muito a área que eu estou estudando e que estou desenvolvendo para ser uma profissional em poucos anos. Eu amo falar sobre sustentabilidade, amo mostrar para as pessoas coisas que são importantes que a gente entenda como sociedade, com relação a floresta, aos recursos, desde curiosidades até conceitos super importantes para que a gente compreenda como as nossas ações também afetam tudo isso. Sou bem engajada com sustentabilidade e ao longo do curso eu fui cada vez mais me encantando pela profissão. Sei de que certa forma eu vou poder fazer uma diferença, mesmo que em um âmbito pequeno. 

- Gostaria de deixar alguma mensagem aos nossos leitores?

Nós precisamos conhecer e ter orgulho do que a gente tem aqui em nosso país, especialmente falando da floresta. Nós temos uma biodiversidade fantástica e muito rica, temos florestas exuberantes, desde o Sul até o Norte do Brasil. A gente tem a Mata Atlântica aqui no Sul do Brasil, com todas as suas formações vegetais, temos o Cerrado que é um dos biomas com maior diversidade no mundo, o Pantanal que é um bioma totalmente único, temos os Pampas, os Campos, Caatinga, Amazônia, temos as formações de mangues no Litoral. Temos muita riqueza e temos muita gente capacidade para lidar com essa riqueza, temos universidades excelentes, falando do que eu conheço que é a Engenharia Florestal, temos a melhor universidade do país que é a UFPR, então temos muitos pesquisadores, estudantes, muito empenhados, então a gente tem tudo para ir passo a passo atingindo um desenvolvimento sustentável na nossa sociedade. O que temos que fazer é reconhecer o que nós brasileiros temos como recurso e riqueza, ter orgulho disso e defender. Reconhecer também os problemas que a gente sabe que tem, como desmatamento ilegal, queimadas e enfrentar esses problemas com muito trabalho, pesquisa e conscientização para que as crianças possam aprender isso nas escolas, os adultos possam se informar, e que a informação chegue à sociedade. Só assim que a gente vai conseguir mudar o cenário e também a visão do mundo sobre o Brasil, para um país que além de possuir riqueza possui consciência ambiental, consumo, e possui hábitos sustentáveis como nação.  

Compartilhe este conteúdo: