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Psicólogo fala sobre a saúde mental das pessoas durante a pandemia

Psicólogo fala sobre a saúde mental das pessoas durante a pandemia

Fernando Pimentel destaca os principais motivos pelos quais as pessoas adoeceram mentalmente na pandemia e que esse cenário traz uma imensa repercussão futura

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A pandemia trouxe muitas dificuldades e uma delas foi a potencialização dos transtornos psicológicos na população. O isolamento, permitiu que as pessoas descobrissem a importância da convivência social e de como a falta disso pode afetar a nossa saúde mental. Para entendermos melhor como tudo isso acontece conversamos com o psicólogo Fernando Pimentel. Confira!

Psicólogo Fernando Pimentel

- Você acredita que a pandemia potencializou o surgimento de transtornos mentais em parte da população?

R: Sim, a pandemia potencializou o surgimento de transtornos mentais, pois trouxe consigo uma série de mudanças na vida das pessoas. O isolamento social é a principal recomendação das autoridades de saúde mundial, porém, aumenta a probabilidade do surgimento de sintomas de ansiedade, estresse, depressão, pânico entre outros que se somam ao medo do perigo eminente de contágio. É claro que isso tudo varia de pessoa para pessoa. Muitas pessoas estão aterrorizadas. Em um livro da obra de Freud chamado, Mais além do Princípio do Prazer, ele fala sobre a presença ou não do objeto de perigo. Normalmente sentimos medo de algo perigoso que vemos e que é previsível. Ficamos angustiados quando existe algo perigoso que é previsível, mas que não vemos. Mas em relação ao Covid, nós não vemos o objeto nem tão pouco é previsível, só sabemos que é perigoso, e nesse caso, sentimos o terror, o que potencializa ainda mais as possibilidades de transtornos a saúde mental.

- Este cenário traz repercussões futuras?

R: Este cenário traz imensa repercussão futura para a saúde mental, pois os índices de fatores estressantes são muitos, como por exemplo, o luto não elaborado, o luto prolongado, o desemprego ou a preocupação em perde-lo, divórcios, suicídio, agravamento ou aparecimento de transtornos mentais como a síndrome de Burnout, abuso de álcool e drogas, estresse pós-traumático entre outros.

- Quais grupos têm risco maior para o adoecimento psíquico?

R: Penso que todos nós estamos propensos ao adoecimento mental, mas, alguns grupos acabam sendo mais afetados, como no caso dos profissionais da linha de frente da saúde que estão sob alto nível de exigência física e emocional. Outro grupo são os professores, que tiveram que enfrentar repentinamente um novo modelo de aula o que acarretou em mais trabalho, estresse, sobretudo no momento de dar aulas online concomitante as aulas presenciais. Outro grupo são os Idosos, que foram os que mais permaneceram em isolamento e ainda mais aqueles que já vinham em um processo de demência. Porém, poderíamos apontar muitos outros grupos como das crianças que também precisaram permanecer muito tempo em casa, bem como alguns empresários que estão vendo suas empresas com dificuldade financeira ou pessoas desempregadas que não conseguem pagar suas contas.

- Quais os sintomas mais frequentes e quando indicam a necessidade de procurar tratamento especializado? 

 R: Num primeiro momento, a pessoa pode ser envolvida em um sentimento de desamparo, pois é difícil lidar com um mal invisível que até mesmo aqueles que desacreditavam no poder de contágio, estão contraindo a doença. Outra dificuldade enfrentada é a angústia hipocondríaca, que é justamente quando a pessoa começa a criar sintomas. É possível que o indivíduo comece a ter comportamentos compulsivo, aos poucos vai ficando mais irritado, ansioso, com dificuldade para dormir e tendo falta de concentração, medo, angustia, tristeza até que não consiga conviver socialmente ou realizar suas atividades cotidianas. Não é bom deixar que isso aconteça. Por isso, é necessário procurar ajuda especializada como um Médico, Psiquiatra, e seguir um tratamento com acompanhamento psicológico com um psicólogo, sabendo que a recuperação não será de forma mágica, mas através de um processo que necessita de adesão. Em fim, é necessário que para estar bem em outras dimensões da vida, precisa ter saúde mental.

- Como amenizar essa situação? Você tem alguma dica para deixar as pessoas, para tentar evitar o adoecimento psíquico?

R: Nos últimos meses estamos sendo bombardeado com notícias de todos os tipos que acabam nos confundindo, nos trazendo insegurança. Isso faz com que a ansiedade cresça. Estamos passando por um processo de luto. Isso tudo precisa ser elaborado. Para tanto, precisamos qualificar aquilo que vemos na televisão ou na internet evitando que esse bombardeio nos atinja de forma tão destrutiva. Nós temos um limite de informações. Precisamos respeitar nossos limites em ver notícias catastróficas. A doença está presente e nós sabemos disso, por isso precisamos aceitar que temos que tomar cuidado aderindo as mudanças na rotina e as restrições. Buscar novas formas de lidar com esse novo contexto, incluindo cuidados com o bem estar de forma simples que esteja em nosso alcance, investir na dimensão psicológica, emocional. Pode ser vantajoso pensar em mudanças na rotina financeira. Redução do tempo nas redes sociais e priorizar conversa com familiares e amigos sobre coisas reais pode ser saudável. Cuidar dos animais de estimação. Atividade física que pode ser feita até mesmo em casa. Atividades simples são bem vindas para relaxar a mente.

- Gostaria de deixar alguma mensagem aos que nos acompanham?

R: Parece que estamos explorando demasiadamente o medo. Penso que seja necessário olharmos com mais otimismo, ainda que, com todo cuidado em relação aos perigos reais. Existem os problemas, mas talvez possamos parar de explorar esses problemas como se não pudéssemos viver sem eles. As vezes acabamos por nos apaixonar pelas dificuldades a ponto de não vermos mais nada na frente. Portanto, sejamos otimistas. Busquemos fatos bons que possam estar acontecendo ou que aconteceram em nossas vidas. Pensemos no que dá sentido à vida. Aproveitemos o tempo livre para pensar, falar e lembrar de coisas boas. Ler, cantar, ser gentil. Demonstremos respeito e solidariedade para com o próximo, isso traz satisfação e alegria. As coisas precisam serem feitas, não podem ficar paradas, mas não precisamos de tanta pressa, calma. A guerra é contra a doença, não uns contra os outros, podemos nos ajudar.

Fernando Pimentel, Psicólogo: CRP 08/27411- PR - 12/IS-19279-SC.  

Confira abaixo a entrevista gravada: 

 

 

 

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