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Dia Internacional da Mulher: Celina Dittrich, vice-prefeita de Mafra, conta como é ser mulher em um cargo tão importante

Dia Internacional da Mulher: Celina Dittrich, vice-prefeita de Mafra, conta como é ser mulher em um cargo tão importante

Data de Publicação: 4 de março de 2022 09:49:00 A entrevista desta semana é com a vice-prefeita de Mafra, Celina Dittrich, que conta como é ser mulher ocupando um cargo tão importante e fala de suas conquistas e desafios.

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1. Como você se sente estando na pele de primeira vice-prefeita da cidade de Mafra? É isso que podemos chamar de empoderamento da mulher na política?

Na verdade, como você comenta, eu advoguei por 37 anos, mas agora por conta do cargo que eu ocupo na vice prefeitura, eu estou licenciada da advocacia, é uma exigência do nosso estatuto. Mas claro, meu escritório profissional ainda continua lá, com meus sócios e a gente sempre da uma olhadinha. Mas advogando propriamente eu não posso em virtude desse impedimento que o estatuto da OAB me impõe.

E porque eu entrei na política se na minha carreira eu sempre estive muito envolvida com a advocacia, com magistério, com a OAB, eu fui duas vezes presidente da OAB, sub secessão e a local, concorri na OAB estadual. E nunca tinha me passado a ideia de uma candidatura política, seja para vereadora, pra prefeita ou vice-prefeita. Mas eu cheguei em um momento da minha vida que eu sempre nos meus espaços de fala, seja na universidade ou OAB, eu procurava expressar essa angustia, que eu vejo que é comum a todo o povo mafrense, de estar em uma cidade que parece que tem tudo pra dar certo, mas, estava de certa forma, bastante estagnada. Isso era uma coisa que me atingia no meu dia a dia como profissional liberal, porque se a cidade vai bem, vamos todos bem. Isso era uma aflição pra mim, e não só minha, eu via que era compartilhada por muitos dos meus colegas, familiares e alunos, etc. E de repente veio essa possibilidade de eu apoiar um partido novo, com uma nova proposta, uma nova ideia, fui convidada e aceitei. E de fato, comecei a frequentar as reuniões do partido, me interessei, gostei das ideias e dos projetos. Havia um projeto. Não era uma coisa de “ai eu vou ser candidato, quero me eleger e quero sair nas fotos”. Não, havia um projeto pra cidade. Aquilo me interessou e eu pensei “meu deus, agora está na minha hora de apoiar um grupo sério e diferente, com proposta política”. Passado um tempo, veio esse convite, inclusive do prefeito Emerson Maas, para eu compor a chapa como vice-prefeita.

Quando eu aceitei o convite, e aceitei justamente porque minha vida inteira eu estive dando palestras, falando sobre a questão da mulher, sobre o empoderamento feminino, sobre a necessidade da mulher assumir um cargo de poder, sobre a insegurança que as mulheres tem no momento em que são convidadas para um cargo como esse. Então, no primeiro momento eu não pensei nisso, de que seria a primeira vice-prefeita. Eu pensei “eu vou aceitar, porque de repente é um desafio que a vida está me colocando Não tinha como fugir desse compromisso. E aceitei. Eu vejo muito importante a participação da mulher na política.

 

2. Qual o seu papel como vice-prefeita? Nos conte um pouco do seu dia a dia e como você consegue conciliar tudo.

Bom, eu quero dizer que eu posso ter vários defeitos, mas de preguiçosa ninguém pode me chamar. Eu sempre gostei muito de trabalhar, tanto que quando eu advogava, eu tinha meu escritório de advocacia e de noite eu dava aula na universidade, fiz isso durante 30 anos. Então pra mim não é problema. E ser mãe e dona de casa, isso é inarredável da vida de uma mulher, e a gente gosta. Eu tenho três filhos, um que ainda mora comigo, embora tenha começado agora a universidade. Mas é claro que a gente tem que ser pau pra toda obra. Tem que estar cozinhando nos finais de semana, fazendo aquele prato que os filhos gostam, arrumando a casa.

Com o tempo e com a idade, você vai aprendendo que essa coisa de ficar nervosa porque tem muita coisa pra fazer é a pior bobagem que existe, porque dá tempo de fazer tudo. Principalmente se você mantiver a calma e não ficar se estressando, as vezes sendo até grosseira com os filhos, e com outras pessoas. Basta você ter calma que da tudo certo.

As vezes eu até me questiono se a multifuncionalidade feminina, é uma qualidade ou um defeito. Porque a gente acaba se acumulando, sempre com muitas responsabilidades, da casa e dos filhos, e isso acaba recaindo sobre a mulher. Talvez até porque a gente mesma tenha essa postura de trazer pra si essa responsabilidade. Claro, hoje o mundo está mudado, a gente vê que os homens já colaboram com os serviços domésticos, com o cuidado com os filhos e tem que ser assim. Porque afinal, a mulher tá no mundo do trabalho, está conquistando a sua autonomia, a sua independência financeira, e não só a independência financeira, mas, a satisfação pessoal, como profissional. Tem um jargão dos coletivos femininos que diz que o lugar da mulher é onde ela quiser. E eu defendo isso, se ela está feliz sendo só dona de casa, ótimo, parabéns. As pessoas tem que ter a liberdade pra decidirem o que fazer.

 

3. O que você diria sobre as mulheres as mulheres que tem que criar os filhos enquanto estão trabalhando fora?

Muitas mulheres, precisam trabalhar, precisam auxiliar na economia doméstica, mesmo que esteja casada, ela precisa ajudar, porque hoje em dia não tem a necessidade de o homem ter esse fardo de ser o provedor. E os filhos tem que entender isso, especialmente se for uma mãe solteira. Então é lógico que ela precisa estar no mercado de trabalho e as políticas públicas podem auxiliar essa mãe a ter um lugar onde deixar seus filhos para que ela possa desempenhar o seu trabalho e levar o sustento para dentro de casa.

Inclusive a demanda por creches, que antes era bem complicado, conseguir uma vaga pra creche. Esses dias eu estava conversando com a nossa secretária de educação, e a nossa demanda por creches está 100% resolvida, não tem nenhuma mãe que não tenha uma vaga na creche para seus filhos. Nesse ponto nós estamos fazendo o que é necessário para as mulheres.

 

4. Qual a sua opinião sobre as mulheres na política?

É como eu disse no começo, ninguém vai lutar as nossas lutas, só as mulheres para entender as demandas e as suas necessidades. Recentemente foi feita uma pesquisa num ranking de 192 países. E o nosso país ocupa a 104ª posição. Ou seja, nós estamos muito defasados, em relação a outros países em relação à representatividade política das mulheres. E tão é preciso para que tenhamos um país mais justo e mais equânime, que as mulheres aceitem esse desafio de enfrentar a política. Porque elas estarão lutando pelas demandas femininas e conseguindo resolver de maneira muito mais efetiva.

 

5. Deixe uma mensagem para todas as mulheres pela passagem do dia internacional da mulher.

Primeiramente, eu queria agradecer pelo convite, pela oportunidade de vir aqui falar para o dia da mulher com uma interlocutora tão boa como você. É sempre bom estar conversando sobre esse assunto, sobre direitos, sobre igualdade, sobre a condição feminina. Isso é algo que eu nunca me furtei, sempre estive comentando com meus alunos, em palestras. E eu sempre sou escolhida para falar sobre esse tema em palestras, não sei porque. Mas é um tema que me agrada muito, até porque a gente tem essa empatia com o problema feminino, pelo que você falou, porque a gente é mulher e sabe das dificuldades.

Eu fico lisonjeada, a minha intenção nunca foi ser referência pra ninguém, minha intenção sempre foi trabalhar, trabalhar, trabalhar e fazer a minha carreira e lutar pelo que eu achava que era certo. Nunca tive medo de me posicionar diante de uma situação de injustiça. Mas assim eu fui indo dando cabeçada, até acabei pegando fama de braba. Mas quem me conhece sabe que eu não sou braba, mas sou uma pessoa que gosta de que as coisas estejam corretas.

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