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Entrevista com o casal que adotou 4 irmãos biológicos de uma vez

Entrevista com o casal que adotou 4 irmãos biológicos de uma vez

Data de Publicação: 12 de agosto de 2022 14:53:00 Nesta entrevista, o casal André e Kamila, conta toda a sua experiência no processo de adoção de seus filhos, as dificuldades enfrentadas e deixam uma linda mensagem para o dia dos pais.

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1. As crianças não puderam estar presentes na entrevista, então para dar início à nossa conversa, vocês poderiam fazer uma breve apresentação das crianças?

Kamila: A nossa mais velha é a Ana Laura, ela tem 7 anos, a Ana Carolina tem 5 anos, e nós temos os gêmeos também, que são a Ana Flávia e o André Felipe, que tem 1 ano e 8 meses.

 

2. Como foi todo o processo de adoção deles?

Kamila: A adoção tem uma fase que se chama de “habilitação para adoção”, que é quando os pretendentes decidem entregar os documentos necessários para que o judiciário analise se você está apto para fazer a adoção. Nosso processo de habilitação se iniciou em junho de 2021, e nós recebemos a sentença de habilitação no dia 18 de fevereiro de 2022. Com a sentença de habilitação, você tem a possibilidade de que seus dados sejam inseridos no cadastro nacional de adoção.

No nosso caso, tem uma curiosidade que sempre chama a atenção das pessoas, porque muita gente nos pergunta quanto tempo ficamos na fila, porque a maioria dos relatos são de pessoas que ficaram até 11 anos na fila, no nosso caso, nós ficamos horas na fila. No mesmo dia em que saiu a nossa sentença de habilitação, e que os nossos dados foram colocados no sistema nacional de adoção, o nosso cadastro já fechou com o cadastro das crianças. Então, no mesmo dia que a gente recebeu a notícia de que tínhamos sido habilitados para a adoção, nós também recebemos a notícia de que a cegonha tinha chegado.

Foi um processo bem rápido, comparado ao de outras pessoas que ficaram vários anos na fila, mas nós consideramos quase uma gestação, porque foram mais ou menos 9 meses até que a gente recebesse a notícia, e depois mais 3 meses e meio em que nós estivemos no período de convivência, até recebermos a sentença de adoção, que é onde o juiz determina que sejam expedidas novas certidões, já com os nossos sobrenomes, com os nomes dos avós.

André: Gostaria de acrescentar também, que a parte de apresentação de documentos, cursos perante o Tribunal de Justiça do Estado, tem também a parte de contratar psicólogos que possam te acompanhar e testar a sua aptidão para adoção. Essa é a parte mais burocrática, depois vem a fila que não tem burocracia, vai apenas depender do perfil da criança que você desenhou.

 

3. Como é feito o perfil da criança para a família?

Kamila: você responde um questionário, que a pessoa responsável pelo serviço social do fórum pergunta. Basicamente, responde se quer menino ou menina, se você quer que seja negro, branco, pardo, até qual idade você aceita a criança, se aceita grupo de irmãos, quantas crianças você aceita. Quando chegou nessa fase, para a gente não importava se viesse menino ou menina, não tínhamos nenhuma restrição para raça ou etnia. Nós colocamos a idade até 7 anos de idade, porque nós vamos completar 7 anos de casados, então foi uma coisa um pouco aleatória nossa, de imaginar que esses filhos estariam dentro do nosso casamento, digamos assim. E por último, nós tínhamos que falar a quantidade, então o André queria colocar 6.

André: É, mas nós nunca tínhamos falado sobre isso, quando decidimos que íamos adotar, eu comecei a ver vários blogs, matérias e vídeos sobre a adoção, mas a gente não sabia que tinha que limitar. Então quando ela fez esse questionário, a gente se entreolhou pela primeira vez, com esse assunto, e eu falei, “bom, eu pensei em 6”. Na hora, o olhar foi de repressão, e ela falou, “eu pensei em 3”. Para ceder à essa situação, eu falei que poderia ser 4 então.

 

4. André, como você se sentiu nesse processo de adoção, de ser pai pela primeira vez?

André: Eu vou definir 3 etapas do meu sentimento de paternidade. Antes de ser pai me sentia incompleto, eu queria ser pai e a Kamila queria ser mãe, essa é uma realidade que a gente já tinha dentro do nosso casamento. Após a definição do perfil da criança, que foi feita dia 31 de janeiro, eu fui viver minha vida, pensei que só íamos entrar na fila quando o juiz sentenciasse, e aí na fila a gente ia ficar um ano, dois anos, então fui viver minha vida, fui planejar viagens e tudo mais. Em 18 de fevereiro, nós estávamos trabalhando, quando a assistente do fórum mandou mensagem para a Kamila, falando que queria falar com a gente, logo eu pensei que fosse alguma coisa com a documentação. Nós fomos lá, falamos com ela e ela disse: “A cegonha chegou”. Nossa, eu fui no céu e voltei, perguntei como que aquilo tinha acontecido, se nós ainda nem estávamos na fila para adoção, e ela falou “a sentença saiu hoje à tarde, e em duas horas cruzou os dados com seus filhos e as crianças estão aqui.” Eu estava estagnado, não conseguia falar mais nada, aí a Kamila perguntou: “tá, mas quem são eles?”, a mulher respondeu: “é uma menina de 6 anos, uma de 4 e 1 casal de gêmeos de 1 ano e 8 meses.” Aí ela mandou a foto das crianças, e para você ter uma ideia, eu olhando as fotos, eu não conseguia enxergar de emoção, foi ali que eu me senti pai.

A segunda parte, para mim foi quando a gente foi conhecê-los no abrigo, nós fomos apresentados como visitantes, quando eles entraram na sala que estávamos, nesse momento veio uma sensação de felicidade, aquele momento que você não quer que termine. Passamos a tarde com eles, foi aquela felicidade imensa, só que além de tudo, a gente ia embora e eles iam ficar lá, então nesse momento, já me sentia deixando os meus filhos ali, foi nesse momento que eu defino que nasceu a minha paternidade, quando já estava com eles e não queria larga-los mais.

E o meu terceiro momento, foi quando eu e a Kamila fomos comunicar aos nossos pais e familiares que tínhamos adotado 4 irmãos, e nenhum deles sabiam que a gente tinha entrado na fila. Fizemos uma chamada de vídeo com ambas as famílias, e a frase que a gente falava no início das chamadas era “gente, a família cresceu impressionantemente”, e teve aquele chororô todo, aquela incredulidade.

 

5. Como surgiu a ideia de vocês adotar as crianças?

Kamila: Desde que nós casamos, sempre pedimos à Deus que nos desse uma família grande, e os anos do casamento foram passando, os filhos biológicos não vieram, e nós tomamos medicações, sempre cuidando muito da saúde, até que chegou um momento, onde eu tive que realizar diversos exames, e que foram bastante difíceis, e nós começamos a considerar a adoção. Eu já tinha isso em mente, porque já vivenciei isso na minha família, mas o André não tinha essa experiência, então foi algo novo que a gente pensasse na possibilidade de adoção.

Numa conversa com uma colega de trabalho dele, que é mãe por adoção de duas meninas, ela falou algo muito forte e que aquela frase veio para a gente, ela já tinha sofrido dois abortos, e ela e o marido acabaram chegando à conclusão de que os filhos deles já estavam no mundo, e que eles só precisavam encontrá-los. E essa frase foi muito marcante para nós, desde então, sabíamos que os nossos filhos já estavam no mundo, bastava a gente os encontrar.

André: Eu estava acompanhando a dedicação da Kamila em relação à essa verificação da fertilidade, e nunca tinha problema nenhum, nem com ela e nem comigo, mas a gente continuava tentando. Até que ela teve um momento de extremo desconforto, chegou em casa chorando por essas circunstâncias, aí eu percebi que aquele não era o jeito.

 

6. A adaptação das crianças ocorreu de forma rápida ou eles estranhavam um pouco no começo?

Kamila: A adaptação das crianças, nós não temos nada do que reclamar, as dificuldades que a gente tem são dificuldades das crianças mesmo, de desobediência, de birra, de manha, coisas que qualquer pessoa que tem filhos precisa lidar. Claro, foi uma adaptação à escola, ainda estamos nesse processo de adaptação, correndo atrás de algumas coisas para que eles recuperem algumas coisas perdidas que eles não tiveram na educação formal.

A adaptação com a família estendida, que são os avós, os tios, foi muito rápida, parece que eles estão desde sempre com a gente.

André: Até complementando, um amigo nosso falou, que nasce a primeira criança, nascem pais inexperientes, que vão se virando até alcançar uma expertise. Aí vem o segundo, o cara já está mais experiente. No terceiro, ele já se sente um especialista. Mas eles vieram os quatro de uma vez, e cada um com uma idade. E a gente até achou que as mais velhas vão ajudar muito, mas as mais velhas involuíram, elas queriam mais colo do que os gêmeos. Tinham vezes que andávamos com as mais velhas no colo e de mãos dadas com os gêmeos, que eram bebês. Então, elas queriam renascer nessa família, elas têm algo que o pessoal fala que é comum, que é como se elas quisessem ser bebês de novo no nosso mundo.

Kamila: Mas essa regressão é super comum, inclusive faz parte do processo. Para aqueles pais que pensam em adotar, se acontece isso, é uma coisa boa. Claro, você tem uma menina que pesa 22kg, e ter que carregar ela no colo, a sua coluna sente um pouco, mas isso é sinal de que elas estão se integrando e querem fazer parte dessa família também.

 

7. Em comemoração ao dia dos pais, André, fale para nós, qual é a melhor parte de ser pai?

André: Eu creio que ser pai, para mim, é realização. É você chegar no final do dia, depois de toda aquela rotina de dedicação a cada detalhe, fiscalização, cuidados, proteção, e ao invés de você se sentir cansado, você se sente realizado. Isso enche o coração e convoca todos os homens a embarcarem nessa aventura, porque é uma aventura de doação que não existe outra comparável, porque você não está esperando nada em troca, você faz tudo o que você pensa que é melhor para ele, o tempo inteiro, vai corrigindo, as vezes até negando coisas quando você quer dar, reprimindo quando você queria brincar. É uma atitude de doação, de expressão maior de amor que a pessoa pode experimentar. É algo que recomendo muito, e ainda digo que eu só me sinto completo enquanto pai, é um momento que realmente vai me realizar, quando recebo aquele sorriso, que me faz pensar que eu sou o maior cara do mundo, que eu conquistei tudo, porque conquistei aquele sorriso, porque eu conquistei aquele carinho.

 

8. Querem deixar uma mensagem para as pessoas que estão pensando em adotar, ou que estão passando pelo processo de adoção?

Kamila: O que podemos falar é coragem, perseverança, e que olhem as dificuldades da vida, como a documentação, a espera na fila, tudo isso faz parte do amadurecimento da nossa decisão. Então, qualquer pensamento que você tenha que te faça pensar em desistir, olhe para o outro lado e diz: “não, agora é o momento de eu fortalecer mais a minha decisão e tornar mais firme a minha vontade de adotar”. Muitas vezes a gente encontra coisas ruins no nosso caminho, e de repente encontramos o sorriso delas e isso apaga as dificuldades que você teve, as angustias, então, que sejam firmes na sua decisão e que imaginem o sorriso da sua criança, desse adolescente, que um dia vai te chamar de pai, vai te chamar de mãe e que isso vai preencher demais o seu coração.

André: Eu queria dizer também, que a adoção é uma forma de paternidade e maternidade. Depois que o processo passa, que eles estão com vocês, que a família está completa, eles são somente seus filhos. Não existe mais nada que impeça essa relação de amor profundo, vocês vão ser o “sim” de uma vida que nasceu do “não”. Eles vão te amar mais ainda do que você pode imaginar, ninguém vai te amar mais do que essas crianças que você tirou do “não” e deu o seu “sim”.

 

9. Deixe uma mensagem em comemoração ao dia dos pais!

André: Dia dos pais é a coroação de toda essa dedicação, de todo esse abraço, desse carinho, dessas noites em claro, desse cuidado, dessa proteção, desse querer o melhor mais do que para si mesmo. Esse momento do dia dos pais é a coroação, é a hora que eles vão reconhecer que existe um dia para abraçar diferente e dedicadamente aquela pessoa que tanto se dedica a eles.

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