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A luta contra o câncer

Data de Publicação: 4 de novembro de 2022 14:39:00 Alberto Gugelmin é o nosso convidado desta semana. Ele é médico urologista, diretor da Unimed SC e palestrante motivacional. Conversamos sobre sua trajetória de vida, suas dificuldades na luta contra o câncer de pâncreas e sobre o Novembro Azul.

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1. Para iniciarmos a nossa entrevista, conte um pouco sobre a sua carreira, como você chegou onde está hoje?

Quando eu tomei a decisão de fazer palestras, eu procurei contar a minha história, porque é uma história muito interessante, apesar de muito comum. Eu nasci em Rio Negro, porque não tinha maternidade em Mafra ainda, mas, passei minha vida toda em Mafra, portanto eu sou mafrense. Nasci no bairro do Passo, nós éramos leiteiros, então a nossa função era cuidar das vacas e entregar o leite nas casas.

Estudei aqui no Duque de Caxias, que era um colégio público, hoje o Corpo de Bombeiros funciona ali e depois estudei no Barão de Antonina. Então, eu gosto de contar essa história, porque a nossa origem nunca pode se um motivo de fracasso ou desanimo, muito pelo contrário, a origem tem que ser um motivador, tem que te fortalecer. Nós éramos muito felizes, mas queria alguma coisa diferente pra vida.

Na época surgiu a ideia de fazer medicina, e diferente das grandes cidades, com grandes cursinhos, a gente não tinha nada aqui. Recém iniciava o Colégio Mafrense, onde eu tive a oportunidade de estudar por 3 anos, e dali fui ao vestibular. A única opção era a Federal do Paraná, não haveria outra, e fiz o vestibular, passei já na primeira tentativa. Fui um dos últimos a entrar, de 160 pessoas eu fui 152º, então veja que a vida é muito curiosa, você tem que acreditar em você e acreditar no teu potencial. Lá fui eu, morei na casa do estudante, e me formo 6 anos depois, em 1º lugar na minha turma. Então, não interessa de onde você veio, o que interessa é a força que você tem para fazer as coisas, a vontade e o sacrifício, e qualquer um de nós pode ser o que quiser, se realmente acreditar.

 

2. Atualmente você apresenta a palestra “A força do propósito”. Como veio a ideia de começar essa palestra?

Nessa palestra, eu procuro contar para as pessoas a minha origem que me levou a ser médico, e a minha vida como médico, que é uma oportunidade maravilhosa, pude ajudar muitas pessoas, interagi com muita gente e eu sou muito feliz aqui nessa cidade. Depois de vencida essa etapa, eu fui chamado para fundar a Cooperativa de Trabalho Médico RioMafra, e começamos não mais a trabalhar individualmente, mas por um grupo de pessoas que a gente acredita.

No ano de 2011, saindo aqui de Mafra eu me elejo diretor da Federação, e a Federação é uma estrutura que cuida das 22 Unimeds do estado, então é a primeira vez que alguém do interior, de uma pequena Unimed consegue dar esse passo. Logo a seguir, eu viro presidente dessa Federação, presidente do Mercosul, e em 2017 vice-presidente da Unimed do Brasil.

E daí, com tudo perfeito na minha vida, com felicidade, realização, saúde, dinheiro, poder, eu fui passar as férias na praia, e lá descubro um câncer de pâncreas. E aí, todo mundo sabe, uma doença muito difícil, só 20% das pessoas ficam vivas depois de um ano, e eu tive um grande encontro com Deus nesse período, e de alguma maneira, Deus mandou pessoas conversarem comigo, dizendo que a minha vida precisava ter um outro propósito dali pra frente, usar da minha posição, para fazer o bem para as pessoas, e esse bem teria que ser transformado em ações.

Então, eu comecei um grande projeto, chamado “De Repente o Câncer”, um projeto lindo, faz um ano e três meses que esse projeto está rodando. Ele já foi premiado a nível nacional, em primeiro lugar. Com esse projeto, a gente busca dar para as pessoas, todo atendimento que deram pra mim. Eu fui atendido rapidamente, as minhas consultas foram agilizadas, meus exames, a quimioterapia, a cirurgia, o acolhimento à minha família, a assistente social, então, eu entendi que isso tem que ser feito para todo mundo.

A palestra é a ideia que eu tenho de seguir por aí, contando a minha história, dizendo que a vida é assim, que ninguém é menor que ninguém e todo mundo pode vencer se realmente se dedicar.

 

3. Como está sendo o processo de luta contra o câncer, após o diagnóstico?

Como médico, já dei notícia de câncer para as pessoas a vida inteira e era sempre um momento muito ruim, porque você tem alguém ali cheio de esperança e você tem que dar a notícia de que a doença chegou e teremos que lutar contra isso. Então, como médico era difícil e como paciente, você nunca sabe como vai reagir a isso, nunca imaginei isso. Eu nunca estive sozinho, a quantidade de pessoas que foram me rodeando e foram me dando energia, e eu digo que Deus veio na minha vida de um jeito que eu não esperava e me trouxe essa mensagem, e eu me abracei nesse propósito, e fortalecido pelas pessoas eu tenho ido bem.

 

4. Neste mês, nós temos a campanha do Novembro Azul. Você pode falar um pouco pra gente sobre esse mês?

O projeto “De Repete o Câncer”, é um projeto que visa isso, detectar precocemente o câncer, é um dos pilares do projeto. Mas, antes disso tem a prevenção, e a gente usa muito a palavra prevenção, mas ninguém vai prevenir nada. Se eu for no médico e fazer meus exames todo ano, eu não estou prevenindo o câncer, eu estou me dando uma chance de descobrir a doença precocemente.

O câncer, nada mais é do que um podre dentro de uma maçã, se eu descobrir esse podre antes dele chegar na casca, basta eu tirar a maçã e está tudo resolvido. O problema é que quando a pessoa não faz os exames, ela dá a chance de o podre chegar na casca e ao chegar na casca, esse podre passa para as outras frutas, e aí eu não tenho mais como desmontar alguém.

Nesse mês, a gente tem que ficar pegando no pé, mandando carta, obrigando a fazer exame, pressionando, dando desconto, qualquer coisa, mas levar essas pessoas para dentro dos hospitais e fazer esses exames preventivos.

 

5. Envolvendo o câncer de próstata, tem um estigma muito grande em relação ao exame preventivo, certo?

Eu já dei tanta risada com isso na vida. Na época, como era cidade de interior, nós éramos 3 urologistas, então, as pessoas passam por lá e eles adoram fazer as piadinhas, tirar sarro, fazer brincadeiras, e eu sou um ser humano que adoro brincadeiras, então se o cara chegar no consultório e me contar uma piadinha sobre a próstata, eu vou contar mais umas três pra ele, e nós vamos dar risada do próximo que vai entrar. Tem tudo isso, essa é a vida como ela é, mas é uma grande bobagem, vai lá e faz o teu exame.

 

6. Quais os sintomas do câncer de próstata?

Imagine uma batata, aí você pega uma furadeira, e faz um furo bem no meio da batata. Aí você pega uma bexiga, dessas de aniversário, enche ela, e pega o bico da bexiga e passa dentro desse furo da batata. Se você enxergar isso, você vai entender a próstata, que é a batata, ela está ao redor desse canal da urina, e pro lado de fora da bexiga, apesar de estar encostada na bexiga. Com a passagem dos anos, a próstata começa a crescer, e aí ela pode crescer pra fora. Caso ela cresça pra dentro, ela acaba espremendo aquele canal, e ao espreme-lo, começam os sintomas, o jato da urina vai ficando mais fino, a pessoa precisa fazer mais força pra urinar, é uma urina despressurizada, termina de urinar e fica com a sensação de que não urinou tudo. Isso é câncer? Não necessariamente. Isso significa que a próstata cresceu pra dentro. Para isso você faz o exame de sangue e faz o toque, e aí você vai dizer se foi um crescimento benigno ou maligno.

Porém, uma pessoa pode ter uma próstata de tamanho normal, e mesmo assim ter câncer. Quantas vezes a gente descobriu o câncer por causa de dor nas costas, porque essa doença tem uma preferência por ossos chatos, então ele se espalha para a coluna e para a bacia.

 

7. Após descobrir a doença, quais as formas de tratamento?

Se eu descobrir esse tumor dentro da maçã, eu vou lá, retiro a próstata e a pessoa está curada, porque esse tumor ainda não se espalhou para lugar nenhum.

Se caso eu descobrir numa fase em que esse tumor já é grande, está muito próximo da casca, um paciente mais idoso, o risco da cirurgia é grande, então eu posso fazer radioterapia.

Se esse tumor já está espalhado, quando eu descobri já estava na bacia, na coluna, aí não adianta, então se usa a hormonioterapia, ou seja, ele é um tumor que precisa muito de testosterona, então se usam medicamentos, ou retira os testículos do paciente, assim, o tumor tem uma chance de regredir bastante.

 

8. Para finalizar a nossa entrevista, deixe suas considerações finais ao nosso público!

A saúde é o nosso dom maior. O dinheiro a gente trabalha, a gente produz, mas a saúde é um presente que a gente ganhou, então cuide dela. Cuide da sua saúde, da saúde da sua família, dos teus pais, faça seus exames periódicos, não tenha medo de encontrar as doenças, porque quanto antes você encontra-las, antes você terá a chance de se livrar delas.

E acima de tudo, se um dia você for sorteado para ter uma doença mais séria, mais pesada, sempre lembre que nessas horas é Deus, é a fé, a esperança que nos fortalece e nos ajuda a passar por tudo isso fazendo desta, uma grande experiência de vida e uma oportunidade de dar exemplo aos outros, para que eles também tenham a coragem de lutar quando esse dia chegar.

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