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Amor incondicional: relatos da dona Maria após seu filho ser diagnosticado com esquizofrenia

Amor incondicional: relatos da dona Maria após seu filho ser diagnosticado com esquizofrenia

Data de Publicação: 10 de maio de 2024 14:00:00 Neste especial de dia das mães, Maria da Graça Nunes Ortmeier, de 75 anos, mãe do Maicol Ricardo Ortmeier, de 47 anos, fala nesta entrevista sobre toda a sua luta após seu filho ter sido diagnosticado com esquizofrenia aos 20 anos.

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1. Pode nos contar como foi desde o momento em que você percebeu que o Maicol tinha esquizofrenia até o momento do diagnóstico?

O Maicol é nosso filho do coração. Ele cresceu com muito carinho, muito afeto, até meio mimado, sempre teve tudo o que quis. Apresentou muita dificuldade no desenvolvimento, sempre foi um menino com problemas de saúde, era muito magrinho, meio debilitado, se queixava muito de dores, mas sempre foi muito bem medicado, muito bem tratado, conseguia estudar normalmente como qualquer criança.

Ele começou a cursar contabilidade, e aos 20 anos, quando estava no 2º ano do curso, começou a ficar muito deprimido, muito triste, parecia que nada mais tinha graça para ele e começou a ter ausências de memória. Chegou um dia em que ele já não queria mais ir para aula, e a gente sempre forçando para que ele conseguisse concluir o ano. Até que chegou uma noite em que ele tinha prova, e surtou, saiu fora da realidade, tivemos que chamar os bombeiros, ele foi internado, foi um drama muito grande.

Até aí ele só tratava o corpo para anemia, para qualquer coisa que poderia resolver o problema, mas não encontrávamos solução, e na verdade, a parte que precisava era a psiquiatria.

Após ele ser internado, ficamos alguns dias no hospital, mas não teve muito progresso. Ele tentou voltar aos estudos, mas já não dava mais certo, porque ele já não foi muito bem aceito em relação aos professores, todo mundo já ficou meio em alerta com ele. Chegou um ponto em que os psicólogos que atendiam ele, já falaram para interná-lo, para procurarmos mais recursos.

Fomos para Curitiba, onde conseguimos com muita sorte uma vaga para ele num dos melhores hospitais psiquiátricos. Ele ficou lá por 3 meses, coisa que eles dão um prazo de 45 dias normalmente, mas o Maicol não teve jeito, eles não conseguiam descobrir a medicação, ele quase morreu de fraqueza, não comia, nós tivemos que levar um tipo de vitamina porque ele não se alimentava, até que conseguiram descobrir a medicação correta.

Quando ele estava começando a melhorar, a gente começou a ficar preocupado em trazer ele para casa. Era obviamente uma alegria por um lado, mas uma preocupação por outro, uma insegurança de que ele pudesse ter uma recaída, porque ninguém mais conhecia ele, era outra pessoa. Foi logo na véspera do dia das mães que ele veio para casa, e graças a Deus foi aos pouquinhos dando tudo certo.

Por sorte, o doutor que era psiquiatra voltou a trabalhar na cidade, e ele já tinha fundado o Caps Casa Azul, e isso foi a nossa salvação, nosso refúgio. A gente chegou lá, fomos bem acolhidos, acompanhamos tudo com os profissionais e foi dando tudo certo, porém tivemos que aprender muito, porque ele tinha momentos de delírios, de alucinações, caía fora da realidade, mas ao mesmo tempo ele voltava e assim nós fomos conhecendo-o aos poucos. Hoje eu consigo relacionar tudo aquilo que prejudica ele, como sons, vozes, música, então é uma relação de coisas que provocam casos de mal estar para ele.

 

2. Hoje em dia o Maicol mora com você? Como você faz para equilibrar o cuidado dele com a sua vida pessoal?

Sim, ele mora comigo, e equilibrar tudo foi difícil, porque ele não conseguiu voltar a trabalhar, então a gente procurou fazer com que ele ajudasse em casa, com a parte doméstica, mas sempre respeitando os limites dele, porque tinham horas que ele não conseguia, se queixava muito de dores em nervos, veia, e quando ele falava que estava com dor a gente nem mexia com ele, porque era perigoso ter uma reação inesperada. Então, íamos respeitando, na medida que ele conseguia, e isso até hoje, porque a gente quer que ele tenha responsabilidades, eu não vou viver para sempre.

Eu fiquei viúva há 10 meses, mas o meu marido foi muito importante nas nossas vidas, porque ele cuidou muito do Maicol. Ele era autônomo, então ele tinha mais possibilidades para sair com o Maicol para consultas, exames, cuidava da medicação.

Então, o maior vínculo que o Maicol teve foi com o pai. Hoje nós dois nos cuidamos, eu cuido dele, ele cuida de mim, porque eu já na condição de idosa, com problemas de saúde, também preciso de auxílio.

 

3. Para você, o que significa ser mãe?

Ser mãe é tudo. O Maicol é filho do coração, nós o criamos com muito amor, muito carinho, foi nosso primeiro e único filho. É muito bom ser mãe e melhor ainda ser mãe do Maicol, para mim ele não tem defeitos. Quando ele foi diagnosticado nós assumimos com o que fosse, sem pensar em nada, aceitamos ele e não foi nada ruim.

 

4. Que conselhos você gostaria de dar para outras mães que estão passando pelo mesmo que você passou?

Esse é um momento muito difícil, muito dramático, porque você não sabe o que faz. A gente recorre a tudo e a todos que possam ajudar.

Se alguém está percebendo algum comportamento atípico do seu filho, procure logo recursos como o caps, psicólogos, tem a faculdade com tantos meios de ajudar, então procure o quanto antes os profissionais, porque a gente não consegue sozinho, isso eu garanto.

No nosso caso, a gente nunca escondeu ele, porque a gente já viu e já presenciou casos de famílias que escondem o doente, chegam a se mudar de lugar para ninguém ver a pessoa. Nós procuramos contar e conscientizar a comunidade de que ele tem um problema, e ele é assim e aceitamos ele como é.

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