Português (Brasil)

Mafrense Leocádio Consul jogou quatro anos no Coritiba e se consagrou

Mafrense Leocádio Consul jogou quatro anos no Coritiba e se consagrou

Compartilhe este conteúdo:

 

Se alguém perguntar para Zé Roberto ou para Tião Abatiá, dois dos maiores ídolos de todos os tempos do Coritiba, qual foi o maior craque que eles conheceram no Paraná, é muito grande a chance de o primeiro nome que vão dizer ser o de Leocádio.

 Foi um meia-direita habilidoso, técnico, com toques precisos, fossem longos ou curtos. No dia 03 de outubro de 1971, Leocádio concluiu de cabeça para fora uma jogada sensacional de Abatiá no final da partida contra o Atlético Mineiro, que o próprio meia-direita iniciou.

“Nós tínhamos uma jogada ensaiada pelo Tim. Ele dizia o seguinte: quem lançar para o Tião ou para o Paco (Paquito), entra para finalizar”, conta Leocádio.

Leocádio lançou para Tião Abatiá e correu para receber e finalizar. O Coritiba ganhava por 01 a 00. “O Tião não era muito habilidoso”.

 Mas ele driblou um, driblou outro, passou pelo goleiro Renato e eu fiquei na marca do pênalti. Até que ele lançou, a bola veio e eu podia escorar de cabeça para o meio do gol. Se eu cabeceasse ela entrava. Mas eu quis inventar, quis fazer palhaçada e cabecear nas costas do Renato e a bola foi para fora”, conta Leocádio.

 O meia-direita não se conformou em perder o gol, foi para o vestiário e chorou. Ele que era considerado um jogador frio chorou por quinze minutos. Abatiá, que se consagrou no lance e teria consagração ainda maior se o gol fosse marcado, chegou para o companheiro e disse: “Você errou porque é craque”.

Aquilo serviu de consolo para Leocádio, mas não evitou as gozações dos colegas. “O que os caras me pegaram no pé não está escrito”, diz ele.

 “O pior é que aquela jogada que foi bonita passou todos os dias, durante dois meses na televisão. Até que eu cheguei para os jornalistas e disse: se vocês passarem esta jogada mais duas semanas, a bola vai acabar entrando”, diz ele com bom humor.

 Um craque perde um gol feito? Pode parecer um paradoxo, mas acontece. Pelé foi craque e não acertou algumas jogadas que, mesmo assim, entraram para a história. É o caso de Leocádio.

 No entanto ele colecionou jogadas e gols que entraram para a história do Coritiba, incluindo o da vitória contra o Atlético na velha Baixada, no dia 30 de maio de 1971, que virou tabu porque o alviverde ficou 28 anos sem conseguir outra vitória no campo do maior rival.

Zé Roberto foi outro que disse sem economizar adjetivos: “Falam muito do Zé Roberto, mas o jogador mais importante do Coritiba naquela época era o Leocádio”.

E não se trata apenas de elogios de colegas. Um dos maiores técnicos brasileiros de todos os tempos, Elba de Pádua Lima, o Tim, costumava dizer que Leocádio foi o melhor jogador com quem trabalhou em toda a sua carreira. Leocádio era tão bom que foi o primeiro nome que a diretoria do Coritiba pensou em contratar quando ficou sem o ídolo Dirceu Krüger, que quase morreu na tragédia que foi o choque com o goleiro Leopoldo na área do Água Verde no dia 11/04/70.

Tragédia dupla porque quase vitimou o atacante e deixou o clube com um buraco no meio que precisava ser tampado.

Leocádio estreou com a camisa do Coxa no dia 13 de abril de 1970 num amistoso contra o CSKA. Ele ficou no Alto da Glória até 1974. No Coritiba, Leocádio foi artilheiro com cinco gols numa das duas excursões que o Coxa fez no começo dos anos 70 ao exterior, venceu três campeonatos estaduais, o Torneio Internacional de Verão de 1971 e o Torneio do Povo de 1973. Leocádio nasceu em Mafra no dia 5 de outubro de 1944 e hoje mora na mesma cidade. No entanto, nestes últimos setenta anos, o pacato cidadão Leocádio Cônsul escreveu nos campos de futebol do Paraná a sua lenda de grande meia-direita.

Final da carreira-Em 1974, ele foi para o Londrina, time que já tinha defendido durante quatro anos no início da carreira. O Londrina foi o seu último clube.

 “Eu estava bem no Coxa. Teve um jogo em que ganhamos de 3×0 do Corinthians e eu não queria jogar sem contrato. O Almir de Almeida falou: Leocádio, renova e depois você viaja para Fortaleza, onde o Coritiba ia jogar. Acontece que o Coritiba era uma família. A gente não tinha segredos. Eu fui falar com o Evangelino numa segunda e peguei ele num dia daqueles. Fechamos o pau. O Iustrich foi contratado e me viu e perguntou porque eu não jogava. Eu disse que não tinha contrato e ele falou com o Evangelino, que ficou hesitante. Nesse meio tempo apareceu o Londrina. Fechei com eles e fui embora”.

Compartilhe este conteúdo: